sábado, 8 de dezembro de 2007

Brasil perderá R$ 320 bilhões se não investir nos jovens

70% dos gastos sociais no Brasil são destinados ao grupo com idade acima de 61 anos; já o público de 15 a 24 anos recebe apenas 6%


O Brasil perderá até R$ 320 bilhões na próxima década se não investir nos jovens em risco, estima o Banco Mundial (Bird). O estudo alerta que o maior esforço deve ser feito nos próximos três anos, pois com o envelhecimento da população brasileira dificilmente o País terá no futuro um potencial jovem como o de hoje.

O cálculo considera os custos do atendimento do público de 15 a 24 anos em situação de vulnerabilidade e uma estimativa de perdas que a sociedade pode ter pelo fato destes jovens não disporem de oportunidade para se desenvolver plenamente. “Se forem feitos investimentos agora, o Brasil terá um ganho de R$ 320 bilhões para a próxima geração. É um excelente negócio, sem considerar os ganhos sociais e de qualidade de vida”, afirma a especialista em Desenvolvimento Social e Sociedade Civil do Banco Mundial, Zezé Weiss.

Os dados estão no relatório Jovens em Situação de Risco no Brasil, apresentado recentemente pelo Bird. Já as informações sobre a redução gradual do número de jovens nas próximas décadas podem ser conferidas na Projeção da População do Brasil 1980-2050, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O documento mostra que se em 2007 as pessoas com 15 a 24 anos compõem 18,3% da população (34,6 milhões), em 2030 representarão 14,9% (35,4 milhões). Mas os indivíduos com mais de 55 serão maioria: 53,2 milhões, ou 22,3% do total.

Quanto a sociedade perde

O estudo do Bird contabiliza os gastos do governo per capita e para o conjunto da população de 15 a 24 anos, com base no número de jovens nesta faixa etária em 2004 – que era de 35.163.312. Os cálculos se referem às despesas durante toda a vida do jovem, que na verdade é o número de anos de trabalho (40 anos), uma estimativa informal baseada em dados da PNAD do IBGE.

Veja alguns destaques do relatório:

Os gastos públicos diminuem quando o jovem abandona a escola cedo, na medida em que o Estado economiza em salários de professores, estrutura e material didático. Mas os benefícios perdidos, decorrentes da baixa escolaridade, são de R$ 755 milhões para cada geração de jovens.

Os gastos do governo com os jovens desempregados – devido às altas taxas de desocupação nesse segmento – são altos. Totalizam entre R$ 120 milhões e R$ 224 milhões todo ano.

O público com idade entre 16 e 24 anos que contrai o vírus HIV custa ao Estado R$ 297 milhões em cuidados médicos durante toda a vida do jovem. Como este deixa de produzir ou reduz sua produção, a perda financeira para a sociedade referente ao conjunto de jovens infectados equivale a R$ 554 milhões nesse período.

A violência cometida por jovens custa ao Tesouro R$ 478 milhões em despesas diretas, durante toda a vida do conjunto de indivíduos envolvidos. Os gastos com prevenção de delitos, prisões, julgamentos, reparações ao patrimônio e despesas médicas chegam a R$ 109,7 mil por jovem nesse período.

Os prejuízos para o próprio jovem

Além de calcular os custos públicos, o estudo do Bird estima as perdas econômicas para o próprio jovem, em virtude da situação de vulnerabilidade. De acordo com o documento, uma pessoa que não completa a Educação Básica na juventude priva-se de ganhar de R$ 32.732 a R$ 68.440 ao longo da vida, por exemplo. Se tivesse concluído o Ensino Superior, poderia ter ganho até R$ 310.052. Para toda uma geração de jovens, isso representa uma perda de R$ 297 bilhões.

Juventude recebe só 6% dos investimentos sociais

O relatório do Banco Mundial traz um dado especialmente preocupante: hoje, enquanto a população jovem ainda é maioria, o segmento é que menos recebe investimentos. Segundo o documento, 70% dos gastos sociais no Brasil são destinados ao grupo com idade acima de 61 anos (pagamento de aposentadorias). Já o público de 15 a 24 anos recebe apenas 6% e registra indicadores sociais preocupantes, tais como:

34,5% dos jovens brasileiros vivem em famílias com renda per capita inferior à linha da pobreza (menos de R$ 176,29 mensais), segundo a estudo Radar Social, publicado em 2005 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O jovem tem dificuldades para concluir o Ensino Médio. Dados do Censo Escolar mostram que mais de um milhão de alunos reprovaram (11% do total) em 2005, outro 1,2 milhão abandonou a escola (14%), e 4,1 milhões (46%) estavam em situação de defasagem idade-série. Apenas 62% dos estudantes termina o Ensino Médio entre 17 e 19 anos, idade considerada adequada, enquanto 32,5% só conseguem fazê-lo após os 20 anos.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE, em 2005 existiam 5,7 milhões de indivíduos de 20 a 24 anos desempregados, o que representa 33% dos 17,3 milhões de brasileiros nessa faixa etária.

A violência é uma grave ameaça às próximas gerações. Se apenas 3% dos óbitos de adultos e idosos são causados por homicídios, entre os jovens o percentual é de 39,7%, segundo o Mapa da Violência 2006 – Os jovens do Brasil, da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Os homicídios entre o público de 15 a 24 anos cresceram 64,2% na última década, contra um aumento de 48,4% para os demais. A diferença é clara no índice de mortalidade: são 51,7 óbitos por 100 mil habitantes entre os jovens, contra 27/100 mil para o resto da população.

Política nacional de juventude começou tardia

Entre as causas dos baixos indicadores, especialistas colocam o atraso na adoção de uma política nacional de juventude. Em 2001 – quando o Brasil criou sua política – 82% dos países do mundo já o tinham feito e 89% já possuíam mecanismos de coordenação nacional nessa área, aponta o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve).

No caso brasileiro, há um longo caminho a percorrer. A socióloga Maria Virginia de Freitas, coordenadora do Programa Juventude da ONG Ação Educativa, considera que a área educacional ainda recebe pouca atenção, apesar de ser essencial para prevenir situações de risco. “Os jovens inseridos no Ensino Médio têm extrema dificuldade de entrar no mercado de trabalho e na universidade”, afirma. Maria Virginia defende uma política nacional de trabalho para a faixa de 15 a 24 anos, a exemplo da política educacional, e não apenas programas pontuais como o Primeiro Emprego.

Para a socióloga Miriam Abramovay, conselheira do Conjuve, falta monitoramento das iniciativas que compõem a política nacional. “Pro-jovem, Primeiro Emprego, nenhum desses programas foi avaliado sobre o impacto que causou na vida dos jovens. Não há acompanhamento”, critica. No momento em que a especialista fez essa avaliação, o Governo Federal anunciou – no dia 31/8 – que o Primeiro Emprego será extinto em 2008, por não cumprir os objetivos a que se propôs. De 2003 a 2004 o programa consumiu R$ 163,7 milhões do orçamento de R$ 449 milhões de que dispunha no período (36,4%). Alcançou somente 0,55% de sua meta, inserindo 3.936 jovens no mercado de trabalho. O objetivo era inserir 260 mil por ano.


Fonte: PJ Maringá


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